quarta-feira, 12 de agosto de 2015

PRECE A RUKH





PRECE A RUKH

Agónica dos voos rasantes dos pássaros longínquos
feneço dos seus breves cantos ténues e alucinados...


Quero estender os braços, soltar um assobio,
gesticular, chamar, gritar, desesperar-me;
Fazer-me em asas e voar, urgente,
antes que a águia equivocada se despenhe!

(...)

Mas não posso...
Tenho os membros acorrentados e
o rosto desprovido de toda a mímica,
porque a dor que sinto dessa mágoa alheia
apagou toda a sua expressão exterior.

E a voz morre-se-me, embargada,
enrouquecida de tantas lágrimas;
e os ténues uivos que ainda se soltavam
morreram amordaçados de vergonha...

(...)

Ó Grande Rukh, vinde valer-me!!
Trazei os sete elefantes mais imponentes
e sobre eles os sete anjos das sete trombetas,
mas só ao sétimo seja dada voz de sopro!

E que o seu som alto, grave e eloquente
recupere a altivez da águia mor,
E ela retome o seu lugar de proa 
no penhasco mais abissal 
da montanha mais alta
da grandiosa cordilheira da poesia !

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24 HORAS DE POESIA



24 HORAS DE POESIA

Amanheço com sede dos teus versos
e o dia arrasta-se numa cruel ansiedade...
À hora do crepúsculo sorrio, trémula 
do leve assomo de um punho distante
que começa a agitar o universo...
Mas é a noite que me traz alegria
quando ofereces, resplandecendo,
as palavras que arrancam sorrisos, 
E que pela madrugada adentro,
vão espalhando, generosas,
sementes de pura magia !


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A BATALHA DO AMOR



A BATALHA DO AMOR

Que Calíope preserve a eloquência 
e a Eros peço que me acompanhe!
Pois nesta incrível batalha do amor 
Zeus ordena mas não manda
E é Venus quem nos guia
e Afrodite quem comanda!


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SONETO APAIXONADO




SONETO APAIXONADO


Quero uma seara ondulante pintada de papoilas vermelhas
E um baloiço de estrelas pendurado nas nuvens raras,
Quero o canto das sereias embalando as ondas marinhas
E um mar de algas azuis pintalgando as águas claras !

Quero um sorriso sincero, o toque de um abraço,
Um olhar cúmplice rompendo um silêncio absoluto!
Quero uma música romântica cantada no meu regaço
Um leito franjado de amor, verdadeiro e impoluto!

Quero uma noite tranquila de sono sereno e profundo
Polvilhada só de sonhos que queremos ter acordados,
Quero despertar de manhã, sentir-me parte do mundo,

Tomar café e pão fresco, dar beijos assoberbados,
Sentir o cheiro a orvalho em flores recém colhidas
E dizer "Bom dia!" todos os dias das nossas vidas !

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NAS ASAS DE CALÍOPE




NAS ASAS DE CALÍOPE

Estão gastas as palavras de tanto as gritar
E roucas as vozes de tanto silenciarem...!
Concedei-me, Calíope,
apenas um breve instante de eloquência ! 
Permiti-me libertar, ainda que efémeramente,
aquilo que me dói no âmago da minha alma...
Um momento apenas, imploro-te,
para exorcizar esta melancolia,
este sopro agónico que me pesa
esta sombriedade que me entristece...!
E, alada da alegria que também mora em mim,
possa eu voar livre de mágoas e dores
e aportar naquele cais tão longínquo
onde mora a felicidade
que almejo e persigo
mas que me escapa...


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Arte: Gustave Moreau

TAREFAS CÓSMICAS






TAREFAS CÓSMICAS

Voo indómita sob o cosmos encavalitada numa nuvem negra
que cobri de algodão tão branco como só a alvura pode ser.
Levo comigo a canção ociosa das cigarras, e um malmequer
que vou desfolhando, benquerendo, sobre os pastos verdes.
Mais além, derramo o brilho das estrelas que colhi pelo céu
sobre o vasto oceano, calmo, azul e levemente ondulante.
Um pouco à frente, largo um dos anéis roubados a Saturno 
defronte de um casebre onde crianças brincam na clareira.
Súbito, ouço uma voz autoritária chamando o meu nome !
É o Sol, repreendendo-me por me ter esquecido da chuva
e, ao invés, ter trazido a noite escondida na minha montada!
Sorrio, pedindo desculpa com ar atarantado, e dou meia volta.
Está na hora de recomeçar tudo, outra vez !


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O SENTIDO DA VIDA





O SENTIDO DA VIDA


Nos abismos da solidão sou a que grita em silêncio
E agonizo numa claustrofóbica sensação de não ser.
Das páginas sanguíneas que arranquei da minha vida
Ficou só o sangue, espesso, que me entope as veias, 
E me dói nos alvéolos, nos átrios e nos ventrículos.
Sinto um desmembramento da alma que me fustiga
A cada olhar que direcciono para dentro e para fora.
E enquanto o meu chão, o meu caminho, é invisível,
Deparo-me com a inalterabilidade dos dias e do mundo, 
Tudo acontecendo com normalidade, indiferentemente.
E percebo o quão insignificante é a minha existência
E o tamanho abissal desta flagrante insignificância.
Concluo então que a vida acontece sempre fluída
E é desprovida de um sentido ontológico universal.
O seu significado é apenas subjectivo e egoísta
Na exata medida da nossa própria Felicidade...

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QUANDO A NATUREZA TE AFAGA




QUANDO A NATUREZA TE AFAGA

Recebe na alma, amor, as carícias que não posso entregar-te em mãos
E dá-te o direito de parares por um instante a contemplar este céu...
Vês aquelas nuvens alvas, quase transparentes e de formas bizarras
que se aproximam, lestas, lá bem alto, mas sem pressa alguma?
Levam a minha saudade e regarão com sol aguado a terra que pisas...
E essa brisa fresca e suave que te afaga os cabelos e o rosto, sentes?
Sou eu a beijar-te com a doçura que os teus versos de amor me despertam...
Sentes esse perfume de verão, primavera e outono que te envolve ?
São as fragrâncias da ternura que os meus olhos exalam quando penso em ti...
Sim amor, esta distância abissal que nos separa não me demove...
Estou contigo em cada um dos elementos que a natureza consagra ao amor,
em cada uma das palavras que não deixo morrer nos meus lábios,
e em cada uma das lágrimas que deixo cair quando leio os teus poemas, 
ainda que não saibas...


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DAS MÁGOAS CREPÚSCULARES




DAS MÁGOAS CREPÚSCULARES

Já não me crescem flores de cristal no peito e nas mãos
E os cacos voejam em meu redor alucinados e dolorosos...
Avanço por oceanos de lágrimas depuradas em agonia
Cicatrizada das feridas abertas por desabafos rancorosos...


Incrédula das conchas fechadas de onde roubaram as ostras
Desfolho em mim sorrisos que os búzios me emprestaram
E é nas anémonas delicadas que ora se refugiam as pérolas
Que cultivei na minha alma, mas os Deuses enjeitaram..

Ouço ainda, longínquo, o belo e triste canto das sereias condoídas 
Mas fugiram-me as notas e as claves de sol que tinha para retribuir
E as que guardo são agora amargamente silenciosas, de tão doídas...

Procuro aquele barco de velas enfunadas aos ventos que ouço bramir
Neste horizonte imenso onde as rubras cores crepusculares não cabem
Mas o que vejo é o vazio das ondas que já passaram, e tudo sabem...

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Foto de Zé Manél, "A leste da Indonésia"

DEVANEIOS BUCÓLICOS


DEVANEIOS BUCÓLICOS

Vai por esses montes fora e abraça o céu
Pega numa nuvem, põe-a ao ombro, e vem,
Beija esses raios de luz que te atravessam 
E sorve o ar da montanha em que caminhas!
Mergulha depois nesse ribeiro de lágrimas
Onde peixes nadam na água que já não têm,
E dá-lhes em mil sorrisos o líquido da vida!
Após, fertiliza a terra desse chão que pisas
Com o húmus criado nos outonos da alma,
Bebe desse verde clorofílico que te rodeia
Sublima-te da seiva das árvores invisíveis,
E faz dessas pedras duras a tua estrada
Que em algodão transforma o frio granito!
Mistura enfim o azul, o castanho e o verde,
Junta-lhe uma pitada de cinzentos e brancos
E deixa que o teu espírito alado voe, livre,
Pleno de força e liberto de todos os prantos!




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Foto de Zé Manél "A leste da Indonésia"

ONDE ESTÁS AMOR?




ONDE ESTÁS AMOR ?

Onde estás amor ?
que te quero, mas não te vejo
que te vejo, mas não te olho
que te olho, mas não te ouço
que te ouço, mas não te cheiro
que te cheiro, mas não te toco
que te toco, mas não te abraço
que te abraço, mas não te beijo!
Apenas te sinto e te desejo...
Porque não estás aqui
mas existes em mim !




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Arte: Pablo Picasso, mural educativo

SONETO DA HUMILDADE

SONETO DA HUMILDADE

Exasperam as vozes emudecidas dos gritos que enrouqueceram
E nada mais afirmam ou exclamam senão uivos despropositados!
Tremem os frágeis cordeiros mansos das poderosas alcateias
Que lançam impunes ataques só egoísticamente justificados !

Oh Deuses da eloquência lavrada nas penas incrivelmente dotadas
Porque vos olvidais das meras Liras que aspiram à Tuba eloquente?
Incompreendidas são todas, é certo, nesta mundana superficialidade,
Mas não ordena a Justiça que ajudeis quem dela mais está carente?

Deve uma flor de campo que almeja uma simples jarra, ser condenada ? 
E se mesmo a própria jarra foi esculpida por mãos humildes em barro cru ?
Não merecerá por isso, como a flor, sobrevivente, ser também acalentada? 

Será uma simples papoila, selvagem e autodidata, exibindo o seu ser nú,
Menos que a orquídea, desabrochada de múltiplos e contínuos cuidados?
Ou convocará, por isso, e por tão efémera, atenção e carinho redobrados?

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UMA PALAVRA







UMA PALAVRA

Procuro uma palavra. 
Uma palavra apenas.
Uma palavra que abrace.
Uma palavra que afague.
Uma palavra que cante
a música da alegria.
Uma palavra silenciosa
que cale a agonia.
Uma palavra que exulte
a dádiva da vida.
Uma palavra que escute
o sussurro da ternura.
Uma palavra que diga
o que os meus versos
não dizem.
Uma palavra que dê
o que os meus versos
não dão.
Uma palavra que beije.
Uma palavra que acalme.
Uma palavra de gratidão.


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Arte: Seurat, "Camponesa sentada na gram

Oração Da Esperança




ORAÇÃO DA ESPERANÇA

Há uma estrada de luz em todos os labirintos em que a vida se esconde
E um punhado de flores por abrir em cada canteiro esculpido nos jardins;

Abre os olhos e atenta para lá das máscaras fingidas e dos véus opacos
que as transparências existem em todos os obscuros abismos da alma.

Dá-te a tranquilidade de uma inspiração tão profunda 
que o sangue se sublime dessa avalanche de oxigénio,
E experimenta entregar-te à sensação de pura leveza
que os corações conhecem do alívio que traz o perdão.

Volta costas ao lodaçal nauseabundo da infâmia e da cólera 
E faz-te cego e surdo aos vis desesperos da vingança cruel.

O céu vestiu-se de azul e o sol hoje acordou generoso
E escutam-se as aves cândidas cantando a esperança.

Se nos permitirmos sorrir da alegria dos nossos anseios,
Rejubilaremos da suavidade que a paz de espírito concede
Quando logramos ver na vida um copo pelo menos meio cheio!

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Arte: Claude Monet, "Impressão, O nascer do Sol"

domingo, 2 de agosto de 2015

AMAR-TE É A MINHA ORAÇÃO





AMAR-TE É A MINHA ORAÇÃO

Ah, como queria ter asas e voar até ti
ou escamas e guelras para atravessar os mares;
Ser brisa e afagar os teus cabelos, 
ou luz para te encontrar a pele, 
água para refrescar-te... !


Estás-me no coração, no sangue, na pele, 
por todo o meu corpo exterior e interior, 
no meu pensamento, no meu espírito e na minha alma; 
Em cada um dos meus cromossomas, átomos, células e moléculas;
em cada inspiração, expiração ou transpiração minha; 
em cada milímetro de cada poro do meu corpo;
em cada milésimo de segundo da minha existência...!

Não sequestraste apenas a minha alma
mas todo o meu ser.
Sou em ti amor, e tu em mim;
O meu corpo é o teu templo,
e eu, sou tua devota.
Amar-te é a minha oração!

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ESCULTURAS DA ALMA



ESCULTURAS DA ALMA


No Tempo 
nem bússolas ou ampulhetas me prendem; 
E no Espaço 
nem algemas ou grilhetas me seguram.

Sou livre e eterna 
da profundidade da minha alma 
e da ponta dos meus dedos.

Vozes que são do que sinto e do que escrevo, 
As palavras com que esculpo as folhas brancas, 
Marcam o ritmo da minha respiração cardíaca.

E nenhum espelho do mundo é mais fiel 
E em nenhum outro melhor me revejo 
Que nas esculturas de poemas e papel 
Em que me revelo e à vida!

Ana Sofia Carvalho

ASC ©

FOLHAS DESPIDAS



FOLHAS DESPIDAS


São folhas despidas que me rodeiam 
Delas me visto e com elas me desnudo 
E a cada verso sublime que nelas leio 
Planto um sorriso num coração sisudo;

Mais tarde desse sorriso eu farei nascer 
Os poemas com que hei-de conquistar-te 
Brotarão das pétalas que trago nos dedos 
E dos muitos beijos que tenho para dar-te!

E assim corre esta vida de poeta
Entre versos, amor e melancolia
Pois tudo o que preenche a alma
É matéria donde nasce a poesia!

ASC ©

O TEMPO É AGORA



O TEMPO É AGORA

Os gritos que me habitam são hoje silenciosos 
mas cantam, ávidos dos teus beijos ansiosos ! 
E não recordo qualquer tristeza ou amargura; 
Pois, vencidas, desistiram e foram embora ! 
Ficou apenas o silêncio, o presente, o agora; 
E esta urgência de sentir, demoradamente, 
cada breve instante, cada minuto, cada hora.
O futuro a Deus pertence, 
Mas é o hoje que me demora!


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Arte: "Happy today", Karina Bento

ORAÇÃO PELA PAZ E A JUSTIÇA










ORAÇÃO PELA PAZ E A JUSTIÇA

Aguardemos serenos, mas activos, pelos Destinos do Universo 
Para que seja possível o encontro prometido com a Felicidade!


Que os sóis inclementes hão-de apaziguar-se com a chuva refrescante
As noites hão-de resplandecer do brilho de todos os corpos celestes
E os dias serão beijados ternamente pela doçura da paz e da alegria!

Que todos os corações se encham de júbilo
E todas as almas se vistam de branco
Mais alvo e puro que a própria pureza !
Que o afecto preencha o coração dos ímpios
E a ternura expulse a crueldade e a tristeza!
Que os campos áridos se encham de trigo
E os rios transbordem de fulgor e de vida!
Que os céus se pintem de azul intenso
E os mares abram caminho à harmonia!

Que tudo nesta aldeia global se transforme em amor
E todos os seres vivos comunguem em uníssono
Do cálice divino da Solidariedade e da Justiça!

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Arte: Ricardo Setti, "Direito"


SONETO DO AMOR





SONETO DO AMOR

Do sorriso fácil que colas na minha boca emanam pombas brancas 
E dos olhos bem abertos resplandece a paz interior que me domina 
Tenho jardins de orquídeas e rosas a desabrocharem no meu peito 
E crescem-me asas livres no pensamento como quando era menina!


A minha pele tornou-se suave e macia como a ternura que me avassala 
E dos meus lábios pendem beijos infinitos como o céu que nos envolve 
Nas mãos nascem-me estrelas cintilantes que quase parecem mágicas 
E tudo isto que sinto, que é tão belo, o mundo estranhamente me devolve!

Já não quero percorrer os caminhos sombrios e vãos 
Nem quero perecer nos abismos escuros da vaidade
Ou suspirar melancolias que me deixam cega à vida

Quero perder-me para sempre no carinho das tuas mãos 
Deter-me neste estado permanente de amor e de verdade
Entregar-me à Felicidade que Deus entendeu ser-me devida!

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Arte: Eros e Psiqué

DA SAUDADE





DA SAUDADE

Desesperam os olhos ávidos dos olhares um do outro
E as mãos ardentes transpiram das carícias adiadas
No peito saltam à vista os côncavos altos cardíacos
E o corpo já vibra frenético das hormonas agitadas !


E enquanto dura a espera desse mágico encontro
Não há relógio no mundo onde o tempo possa caber
Os minutos duram horas e as horas parecem dias
E passa uma eternidade até tudo acontecer !

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LONGITUDES




LONGITUDES

Quando me faltas o ar escasseia, 
rarefaz-se nestes beijos suspensos,
desvairados de não te encontrarem...


Olho o céu tão distante como tu
e procuro aquele ínfimo raio de sol
que me aquece o rosto e a alma...

E sinto 
que entre vastas longitudes que nos ligam
e as abstractas latitudes que nos separam
O que existe 
é apenas uma linha
transparente e precisa 
como só o amor pode ser...

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Arte: Naum Gabo - Arte linear

DEVANEIOS POÉTICOS



DEVANEIOS POÉTICOS

Entre uma taça de vinho tinto e um cigarro, sorvo o sabor claro da noite 
E deixo os meus dedos vaguearem entre as searas altas das palavras...
Ardem-me doces na boca os gotejos suspensos das ternuras ensaiadas
E a minha pena treme das ondulações insones dos versos que acoita...
Aqueço-me no brilho das luzes estelares que intangíveis me cobrem
Sentindo um frio arrepio confortável na coluna erguida mas cansada
Os olhos tombam das pálpebras despertas por entre pestanas veladas
E estremeço dos sorrisos loucos que as ideias desvairadas me causam...
Deixo o corpo relaxar nestas sensações únicas, suaves e oníricas,
E espraiando-me com preguiça na chaise longue da minha sala
Abro a alma à poesia e o coração ao amor tardio que encontrei
E permito-me voar nestes devaneios em que te recordo 
e onde saudosa e lânguida te desejei...


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FÚRIA




FÚRIA

Por mais que sopremos brisas de bonanza sobre tornados revoltosos 
Por mais que tentemos serenar com chuva os incêndios inclementes
Haverá sempre mais nortadas que atiçam os ventos tumultuosos
E fazem soçobrar os esforços de combate às chamas eloquentes!
Quedemo-nos então no respeito humilde pelos naturais elementos
Mas ergendo a voz em luta pelos que de Justiça estão sedentos!


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imagem: portadacapitania.blogspot.pt

RUGIDOS DA ALMA




RUGIDOS DA ALMA

Rugem nos abismos viscerais as infâmias que não interditei
E ensombram-se os órgãos sanguíneos das lavas cuspidas;
Ardem-me as mágoas que pressinto e de que não me retratei
E pesam-me os chumbos irados das cóleras não consumidas.


Vagueio na face plácida tingida da vergonha rubra e amarga 
E transpiro os suores cruéis expelidos das verdades caladas;
Submersa no lodo putrefacto que o silêncio coagido enverga,
Dou a alma aos abismos escuros dos devaneios inacabados.

Subo vagarosa e hesitante pelas escarpas tumultuosas da dor
E desço apressada pelos fios invisíveis do chão que não existe. 
Não sei se é tristeza o que sinto a tremer na boca em estertor

Ou se o eco frio e pleurático que nas artérias treme e persiste.
Sei apenas que a lentidão do desespero das palavras não ditas
Não consome o frenesim com que os dedos lançam as escritas!

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imagem do Google "A dança dos dragões"

DEVANEIOS POÉTICOS



DEVANEIOS POÉTICOS

Entre uma taça de vinho tinto e um cigarro, sorvo o sabor claro da noite 
E deixo os meus dedos vaguearem entre as searas altas das palavras...
Ardem-me doces na boca os gotejos suspensos das ternuras ensaiadas
E a minha pena treme das ondulações insones dos versos que acoita...
Aqueço-me no brilho das luzes estelares que intangíveis me cobrem
Sentindo um frio arrepio confortável na coluna erguida mas cansada
Os olhos tombam das pálpebras despertas por entre pestanas veladas
E estremeço dos sorrisos loucos que as ideias desvairadas me causam...
Deixo o corpo relaxar nestas sensações únicas, suaves e oníricas,
E espraiando-me com preguiça na chaise longue da minha sala
Abro a alma à poesia e o coração ao amor tardio que encontrei
E permito-me voar nestes devaneios em que te recordo 
e onde saudosa e lânguida te desejei...


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AOS POETAS



AOS POETAS
Fardos são, e pesados, os sonhos que nos escapam, 
mas só porque ainda não buscámos outros para sonhar;
Ímpias são, e vis, as desilusões que se entranham por não termos mais lágrimas com que as chorar, 
mas só porque nos esquecemos onde em nós moram sorrisos;
Ocas, vazias e inúteis são as luzes que teimam em acender-se no nosso caminho,
mas só porque nos habituámos a viver na escuridão...
Ah poeta, que cantas o sofrimento e o desespero, lembra-te que a tua Tuba e a tua Lira são varinhas de condão, génios de lâmpadas mágicas com que todos os dias nos transformas, 
fazendo estremecer as nossas almas e comovendo até ao âmago os nossos corações!
E os brados de dor que desabafas são lanças envenenadas que partilhamos contigo e nos matam também!
Deixa-nos cobrir-te de pétalas, impregnar-te de fragrâncias oníricas, suavizar as feridas escancaradas e dolorosas que te deixam exangue!
Deixa-nos fazer-te acreditar que há um amanhecer claro, calmo e cálido para te confortar e encher de inspiração !


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Arte: "shadow", Arte Intensa

SILÊNCIO ELOQUENTE



SILÊNCIO ELOQUENTE
O silêncio é a única palavra escrita que tenho para retribuir a grandiosidade do teu amor.
Fá-lo-ei com palavras proferidas, olhos nos olhos, para que nenhuma verdade escape à tua compreensão,
e com os gestos simples com que pode agradecer-se um amor desinteressado;
Fá-lo-ei com os beijos que tenho guardados de uma vida inteira à espera de encontrar-te
e com as carícias que o meu corpo desvelou nas veredas da minha alma apaixonada;
Fá-lo-ei, dizendo-te simplesmente, todos os dias, o quanto te amo,
e esculpindo esse amor em mimos que irei dar-te todos os minutos da minha vida.


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